Imagem captada pelo fotógrafo italiano Alessandro di Meo. Dia da renúncia de Bento XVI |
Qualquer resposta que
indique que sou católico por costume e que não deixarei de sê-lo
por conveniência deve ser descartada, sob pena de eu não estar
sendo racional e autêntico o suficiente em minha escolha e decisão.
Brincando com a vida e bancando o louco que não se importa com o que
escolhe e decide... melhor seria deixar de ser católico de uma vez
por todas e parar de ser hipócrita e fingido. Logo, dentre as
respostas possíveis, sinceras e racionais, parece que temos apenas
quatro, mas, a seguir veremos que nem todas são plausíveis:
1
quero amar a Deus com todas as minhas forças e sem interesses;
2 quero ir para o Céu;
3 tenho medo de ir para
o inferno;
4 desejo ser bom
cidadão e feliz neste mundo.
Para tristeza da quase
totalidade dos que se dizem cristãos, esta última resposta também
deve ser descartada por uma razão muito simples: falta de escopo. Em
outras palavras, um ateu consegue ser bom cidadão, desde que
respeite e cumpra as leis humanas e pode conseguir o máximo de
prazer, conforto, poder, amizades e alegrias que este mundo pode
oferecer (o que, para a maioria das pessoas, define felicidade) sem
que, para tal, precise professar alguma fé. Portanto, ninguém
necessita de uma religião para essas coisas e nem é missão de
qualquer religião fazê-lo. Se eventualmente conseguem algo próximo
disso, trata-se de mero efeito colateral ou mesmo desvio de foco ou
perversão doutrinária. Logo, se o seu objetivo é ser bom cidadão,
preocupar-se com “o social”, ser feliz neste mundo, viver bem,
sossegado ou ter prazer, poder, glórias... sugiro que busque os
meios mais adequados e eficientes para tal.
Quanto à primeira
opção, sejamos honestos: não estou nesse nível e nem conheço
ninguém que esteja, ainda que não tenha dúvidas de que existam.
Trata-se de quem se encontra em caminhada espiritual muito avançada,
ou seja, com uma maturidade e consciência tal da própria alma e de
nosso Criador que outra coisa não deseja senão amá-Lo. Portanto,
resta à maioria das pessoas onde, aliás, me incluo, como respostas
possíveis os itens 2 e 3, que podem ser casados, isto é: sou
católico porque quero ir para o céu e temo o inferno.
Claro que uma outra
alternativa possível e muito comum hoje em dia (que não listei como
item 5 por considerá-la irracional) seja a de não crer na
eternidade, nem na alma, nem em Deus. A irracionalidade de tal
ceticismo reside na simples reflexão de que não seja possível que
este universo tão bem ordenado, tanto em uma observação macro
quanto microscópica, seja obra do acaso. Penso que seria necessária
uma fé descomunal no aleatório, no acaso e na sorte para que todo o
universo ou mesmo um mínimo átomo fosse tão perfeito e ordenado
como é. Não seria possível sequer fazer/estudar qualquer ciência
não fosse a certeza dessa ordem, seja no universo seja em cada
organismo. Operar um paciente e perceber que os órgãos estão
dispostos da mesma forma e exercendo as mesmas funções em cada ser
humano, por exemplo, seria como ganhar na mega toda vez que se
jogasse. Haja fé no aleatório! Assim sendo, penso que temos de
tirar o chapéu para a “fé” dos ateus: uma fé absurdamente
alienada no acaso, alheia a qualquer reflexão racional acerca da
harmonia e da ordem sob a qual as coisas foram feitas, um ceticismo
totalmente cego à percepção mais óbvia, que pressupõe uma
inteligência tão grandiosa quanto necessária (conditio sine qua
non) a essa incomensurável obra. Creem no acaso ainda que para isso
seja necessário negar a lógica do que se pode perceber e sobre a
qual fundamentam-se todas as ciências. Enfim, deixo de estender-me
neste mérito para não desviar o foco de nossa reflexão e creio que
este breve parágrafo seja o suficiente, mas se ainda assim quiserem
uma análise voltada para o tema pesquisem no blog pelo artigo:
“Acaso: o deus irracional dos ateus”, escrito em 2012...
Voltemos à reflexão:
se creio no Criador e se vejo com nitidez que há um algo a mais nos
seres humanos do que nas demais criaturas (e para tal não preciso de
um curso ou um psicólogo me ensinando, bastando a mera observação...
minha mesmo, original, ou seja, isenta de ideologias, maconhas e
afins). Enfim... se noto algo que nos torna imagem e semelhança do
Criador, noto também não ser compatível com esse Criador tão
coerente, inteligente e sublime, a ideia de que tudo se esvai sem
qualquer propósito; morreu, acabou. Se assim fosse não haveria
lógica alguma nessa nossa capacidade de compreendermos isso,
bastando-nos ser como os animais, apenas instintivos e absolutamente
incapazes de refletir e raciocinar com lógica e coerência. Um fim
material em si mesmo, tratando-se de uma alma à imagem de Deus, não
é compatível com a essência do Criador, não é compatível com as
palavras de Jesus Cristo e não é compatível com as vidas (muitas
delas recheadas de milagres, notados até hoje e que jamais cessarão)
dos santos(as). Santidade, aliás, a qual todos somos chamados.
Portanto, parece-me mais racional crer em Deus e crer que Ele é
exatamente o que diz ser, pois, se pelos frutos conhecemos a árvore,
não se pode duvidar que haja uma árvore e que esta árvore seja boa
se restar provado que seus frutos são santos e com sabor de
eternidade. Um pouco de reflexão, razão e honestidade intelectual e
a coisa torna-se simples assim sem, no entanto, perder sua grandeza e
seus mistérios que ultrapassam nossa limitada compreensão!
Quanto às realidades
que nos aguardam no post mortem: a Igreja nunca definiu as realidades
de Céu, Inferno e Purgatório (transitório, isto é, do Purgatório
todos vão para o Céu) como locais físicos da forma que os conhecemos aqui, mas como estados da
alma, criatura, em relação a Deus, criador. Uma alma que ama muito a Deus, que viveu em conformidade com
seus mandamentos, mas, por conta de pequenas faltas nesta terra,
precisa purificar-se, não pode ir direto para o Céu, estado de
perfeita comunhão com Aquele que é perfeição por excelência.
Precisa antes passar pelo purgatório, para sofrer, entre choros e
ranger de dentes, as consequências de suas imperfeições, ainda que
mínimas. A comparação é desproporcional, mas seria como se um
mendigo, mal vestido, machucado e exalando mau cheiro, quisesse
entrar em um castelo majestoso, para fazer um banquete na presença
de um nobre rei: antes precisaria de tratamentos, banhos, vestes,
quem sabe até cursos de como se comportar (não para cumprir regras
bobas, mas para aproveitar o melhor de cada momento)... para só
então, poder comparecer ao banquete esbanjando alegria, comendo e
bebendo do bom e do melhor. Por exclusão, compreende-se que o
inferno é o estado de eterno choro e ranger de dentes. Onde não há
esperança (pois não há possibilidade, dada a escolha feita pela
alma nesta vida) de um dia voltar a ser feliz. Não há céu para
essas almas. É estado de eterna ausência... de morte que jamais
morre. E não se espante se eu disser (repetindo o que muitos santos
já afirmaram) que esta será a situação na qual se encontrarão a
maior parte das pessoas, uma vez que optam por viver como se Deus não
existisse, ainda que digam acreditar nEle. Ingratos e seletivos
quanto ao que devem ou não devem seguir das leis divinas, fazendo as
coisas pelo simples fato de que todos fazem... “e se todos fazem,
não há mal nisso”... Ignorando o fato de que todos terão de
responder perante o Perfeito Rei e, nesse dia, o jeitinho brasileiro
não passará!
Refletidas as respostas
concluo afirmando que sou católico e procuro obedecer aos
ensinamentos da Igreja por confiar que ela foi deixada por este nobre
Rei que me aguarda em seu banquete e que, quando veio ao mundo
entregar-se por nós, ensinou-nos o caminho, garantindo ser o único
e não haver outro. Seguir esse caminho exige sacrifício, renúncia
e cruz. Foi por causa dessa radicalidade e dessa aparente arrogância
de um homem que se dizia Deus, que o mataram... A verdade sem
relativismos é insuportável a este mundo... mas se foi por causa de
seu exclusivismo radical que o mataram, foi exatamente porque Ele
estava certo e dizia a verdade que ressuscitou e conosco permanece
vivo. Quero trilhar este caminho único. Não posso errar! Seria
cômodo acreditar que tenho muitas vidas/chances, mas isso,
definitivamente jamais encontrou respaldo no ensinamento de dois mil
anos da Igreja fundada por Nosso Senhor, exceto por alguns
separatistas e hereges. De fato, só tenho uma chance e o preço que
posso vir a pagar por um erro de escolha pode ser grave demais. Dada
a seriedade da reflexão e sua extrema necessidade para entender a
própria essência do ser, sob pena de não viver mas apenas vagar,
não consigo compreender como as pessoas não se questionam quanto ao
porquê de suas existências, o porquê de cada coisa que existe...
Passam a vida a relativizar o que Cristo afirmou ser absoluto...
passam a vida “lutando” para afirmar que “todo caminho leva a
Deus”, negando as duras palavras de Cristo e, paradoxalmente,
incluindo-o no barco daqueles que concordariam com essa afirmação
medíocre, afinal, “Ele é bondoso”. Fabricam cristos cada vez
mais caricatos, fundam igrejas e seitas e jamais se questionam quanto
à existência de uma tal Igreja que existe desde os tempos de
Cristo, fundada por Ele próprio e que, apesar de surrada, atacada e
apesar dos muitos pecados de seus próprios filhos, permanece de pé,
como o próprio Cristo garantiu que permaneceria até a consumação
dos séculos. Será que ninguém pega alguns livros de História para
ver a continuação lógica das Sagradas Escrituras e como tudo, em
perfeita continuidade, faz sentido até os dias de hoje... os dias de
nosso Papa Francisco? O fato de não haver rupturas e em mais de dois
milênios, onde impérios, filosofias e religiões surgiram e
sucumbiram, só ela permanecer de pé apesar de tudo, não representa
nenhum sinal? Seria só uma coincidência? Por estas razões
expostas, sou Católico Apostólico Romano, creio na vida eterna e
estou disposto a pagar o preço por ela, confiante nos ensinamentos
dos santos que me garantem que nesta terra todo sofrimento é deleite
quando se pensa no prêmio: a glória celeste. E espero um dia, a
exemplo de muitos santos(as), ser católico simplesmente por
compreender que a obediência à sã doutrina me faz amar a Deus com
todas as minhas forças, de todo meu coração, da maneira mais
perfeita e sem outro interesse senão amá-Lo até nEle consumir toda
a alma, assim como uma gota que perdendo-se no oceano torna-se uma só
coisa com o oceano.
Na paz de Jesus e no
amor de Maria,
Jeansley de Sousa
Com este artigo despeço-me do blog e das redes sociais por algum tempo, para dedicar-me um pouco mais aos estudos e à oração individual e em família, além, claro, do exercício das responsabilidades e obrigações cotidianas. Espero que leiam e reflitam. Abraço em todos.
ResponderExcluirBelíssimo texto. Me impactou a parte final, que diz : "... e amar a Deus com todas as minhas forças, de todo meu coração, da maneira mais perfeita e sem outro interesse senão amá-Lo até nEle consumir toda a alma, assim como uma gota que perdendo-se no oceano torna-se uma só coisa com o oceano. " Que o Senhor ilumine você e sua família, infinitamente mais.
ResponderExcluirSem exagero. Parece que estou lendo São Francisco de Sales com vocábulos mais modernos. Nota 10.
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