Busca por palavras citadas neste blog

2 de julho de 2015

Por que sou católico?

Imagem captada pelo fotógrafo italiano
Alessandro di Meo. Dia da renúncia de Bento XVI
Qualquer resposta que indique que sou católico por costume e que não deixarei de sê-lo por conveniência deve ser descartada, sob pena de eu não estar sendo racional e autêntico o suficiente em minha escolha e decisão. Brincando com a vida e bancando o louco que não se importa com o que escolhe e decide... melhor seria deixar de ser católico de uma vez por todas e parar de ser hipócrita e fingido. Logo, dentre as respostas possíveis, sinceras e racionais, parece que temos apenas quatro, mas, a seguir veremos que nem todas são plausíveis:
1 quero amar a Deus com todas as minhas forças e sem interesses;
2 quero ir para o Céu;
3 tenho medo de ir para o inferno;
4 desejo ser bom cidadão e feliz neste mundo.

Para tristeza da quase totalidade dos que se dizem cristãos, esta última resposta também deve ser descartada por uma razão muito simples: falta de escopo. Em outras palavras, um ateu consegue ser bom cidadão, desde que respeite e cumpra as leis humanas e pode conseguir o máximo de prazer, conforto, poder, amizades e alegrias que este mundo pode oferecer (o que, para a maioria das pessoas, define felicidade) sem que, para tal, precise professar alguma fé. Portanto, ninguém necessita de uma religião para essas coisas e nem é missão de qualquer religião fazê-lo. Se eventualmente conseguem algo próximo disso, trata-se de mero efeito colateral ou mesmo desvio de foco ou perversão doutrinária. Logo, se o seu objetivo é ser bom cidadão, preocupar-se com “o social”, ser feliz neste mundo, viver bem, sossegado ou ter prazer, poder, glórias... sugiro que busque os meios mais adequados e eficientes para tal.

Quanto à primeira opção, sejamos honestos: não estou nesse nível e nem conheço ninguém que esteja, ainda que não tenha dúvidas de que existam. Trata-se de quem se encontra em caminhada espiritual muito avançada, ou seja, com uma maturidade e consciência tal da própria alma e de nosso Criador que outra coisa não deseja senão amá-Lo. Portanto, resta à maioria das pessoas onde, aliás, me incluo, como respostas possíveis os itens 2 e 3, que podem ser casados, isto é: sou católico porque quero ir para o céu e temo o inferno.

Claro que uma outra alternativa possível e muito comum hoje em dia (que não listei como item 5 por considerá-la irracional) seja a de não crer na eternidade, nem na alma, nem em Deus. A irracionalidade de tal ceticismo reside na simples reflexão de que não seja possível que este universo tão bem ordenado, tanto em uma observação macro quanto microscópica, seja obra do acaso. Penso que seria necessária uma fé descomunal no aleatório, no acaso e na sorte para que todo o universo ou mesmo um mínimo átomo fosse tão perfeito e ordenado como é. Não seria possível sequer fazer/estudar qualquer ciência não fosse a certeza dessa ordem, seja no universo seja em cada organismo. Operar um paciente e perceber que os órgãos estão dispostos da mesma forma e exercendo as mesmas funções em cada ser humano, por exemplo, seria como ganhar na mega toda vez que se jogasse. Haja fé no aleatório! Assim sendo, penso que temos de tirar o chapéu para a “fé” dos ateus: uma fé absurdamente alienada no acaso, alheia a qualquer reflexão racional acerca da harmonia e da ordem sob a qual as coisas foram feitas, um ceticismo totalmente cego à percepção mais óbvia, que pressupõe uma inteligência tão grandiosa quanto necessária (conditio sine qua non) a essa incomensurável obra. Creem no acaso ainda que para isso seja necessário negar a lógica do que se pode perceber e sobre a qual fundamentam-se todas as ciências. Enfim, deixo de estender-me neste mérito para não desviar o foco de nossa reflexão e creio que este breve parágrafo seja o suficiente, mas se ainda assim quiserem uma análise voltada para o tema pesquisem no blog pelo artigo: “Acaso: o deus irracional dos ateus”, escrito em 2012...

Voltemos à reflexão: se creio no Criador e se vejo com nitidez que há um algo a mais nos seres humanos do que nas demais criaturas (e para tal não preciso de um curso ou um psicólogo me ensinando, bastando a mera observação... minha mesmo, original, ou seja, isenta de ideologias, maconhas e afins). Enfim... se noto algo que nos torna imagem e semelhança do Criador, noto também não ser compatível com esse Criador tão coerente, inteligente e sublime, a ideia de que tudo se esvai sem qualquer propósito; morreu, acabou. Se assim fosse não haveria lógica alguma nessa nossa capacidade de compreendermos isso, bastando-nos ser como os animais, apenas instintivos e absolutamente incapazes de refletir e raciocinar com lógica e coerência. Um fim material em si mesmo, tratando-se de uma alma à imagem de Deus, não é compatível com a essência do Criador, não é compatível com as palavras de Jesus Cristo e não é compatível com as vidas (muitas delas recheadas de milagres, notados até hoje e que jamais cessarão) dos santos(as). Santidade, aliás, a qual todos somos chamados. Portanto, parece-me mais racional crer em Deus e crer que Ele é exatamente o que diz ser, pois, se pelos frutos conhecemos a árvore, não se pode duvidar que haja uma árvore e que esta árvore seja boa se restar provado que seus frutos são santos e com sabor de eternidade. Um pouco de reflexão, razão e honestidade intelectual e a coisa torna-se simples assim sem, no entanto, perder sua grandeza e seus mistérios que ultrapassam nossa limitada compreensão!

Quanto às realidades que nos aguardam no post mortem: a Igreja nunca definiu as realidades de Céu, Inferno e Purgatório (transitório, isto é, do Purgatório todos vão para o Céu) como locais físicos da forma que os conhecemos aqui, mas como estados da alma, criatura, em relação a Deus, criador. Uma alma que ama muito a Deus, que viveu em conformidade com seus mandamentos, mas, por conta de pequenas faltas nesta terra, precisa purificar-se, não pode ir direto para o Céu, estado de perfeita comunhão com Aquele que é perfeição por excelência. Precisa antes passar pelo purgatório, para sofrer, entre choros e ranger de dentes, as consequências de suas imperfeições, ainda que mínimas. A comparação é desproporcional, mas seria como se um mendigo, mal vestido, machucado e exalando mau cheiro, quisesse entrar em um castelo majestoso, para fazer um banquete na presença de um nobre rei: antes precisaria de tratamentos, banhos, vestes, quem sabe até cursos de como se comportar (não para cumprir regras bobas, mas para aproveitar o melhor de cada momento)... para só então, poder comparecer ao banquete esbanjando alegria, comendo e bebendo do bom e do melhor. Por exclusão, compreende-se que o inferno é o estado de eterno choro e ranger de dentes. Onde não há esperança (pois não há possibilidade, dada a escolha feita pela alma nesta vida) de um dia voltar a ser feliz. Não há céu para essas almas. É estado de eterna ausência... de morte que jamais morre. E não se espante se eu disser (repetindo o que muitos santos já afirmaram) que esta será a situação na qual se encontrarão a maior parte das pessoas, uma vez que optam por viver como se Deus não existisse, ainda que digam acreditar nEle. Ingratos e seletivos quanto ao que devem ou não devem seguir das leis divinas, fazendo as coisas pelo simples fato de que todos fazem... “e se todos fazem, não há mal nisso”... Ignorando o fato de que todos terão de responder perante o Perfeito Rei e, nesse dia, o jeitinho brasileiro não passará!

Refletidas as respostas concluo afirmando que sou católico e procuro obedecer aos ensinamentos da Igreja por confiar que ela foi deixada por este nobre Rei que me aguarda em seu banquete e que, quando veio ao mundo entregar-se por nós, ensinou-nos o caminho, garantindo ser o único e não haver outro. Seguir esse caminho exige sacrifício, renúncia e cruz. Foi por causa dessa radicalidade e dessa aparente arrogância de um homem que se dizia Deus, que o mataram... A verdade sem relativismos é insuportável a este mundo... mas se foi por causa de seu exclusivismo radical que o mataram, foi exatamente porque Ele estava certo e dizia a verdade que ressuscitou e conosco permanece vivo. Quero trilhar este caminho único. Não posso errar! Seria cômodo acreditar que tenho muitas vidas/chances, mas isso, definitivamente jamais encontrou respaldo no ensinamento de dois mil anos da Igreja fundada por Nosso Senhor, exceto por alguns separatistas e hereges. De fato, só tenho uma chance e o preço que posso vir a pagar por um erro de escolha pode ser grave demais. Dada a seriedade da reflexão e sua extrema necessidade para entender a própria essência do ser, sob pena de não viver mas apenas vagar, não consigo compreender como as pessoas não se questionam quanto ao porquê de suas existências, o porquê de cada coisa que existe... Passam a vida a relativizar o que Cristo afirmou ser absoluto... passam a vida “lutando” para afirmar que “todo caminho leva a Deus”, negando as duras palavras de Cristo e, paradoxalmente, incluindo-o no barco daqueles que concordariam com essa afirmação medíocre, afinal, “Ele é bondoso”. Fabricam cristos cada vez mais caricatos, fundam igrejas e seitas e jamais se questionam quanto à existência de uma tal Igreja que existe desde os tempos de Cristo, fundada por Ele próprio e que, apesar de surrada, atacada e apesar dos muitos pecados de seus próprios filhos, permanece de pé, como o próprio Cristo garantiu que permaneceria até a consumação dos séculos. Será que ninguém pega alguns livros de História para ver a continuação lógica das Sagradas Escrituras e como tudo, em perfeita continuidade, faz sentido até os dias de hoje... os dias de nosso Papa Francisco? O fato de não haver rupturas e em mais de dois milênios, onde impérios, filosofias e religiões surgiram e sucumbiram, só ela permanecer de pé apesar de tudo, não representa nenhum sinal? Seria só uma coincidência? Por estas razões expostas, sou Católico Apostólico Romano, creio na vida eterna e estou disposto a pagar o preço por ela, confiante nos ensinamentos dos santos que me garantem que nesta terra todo sofrimento é deleite quando se pensa no prêmio: a glória celeste. E espero um dia, a exemplo de muitos santos(as), ser católico simplesmente por compreender que a obediência à sã doutrina me faz amar a Deus com todas as minhas forças, de todo meu coração, da maneira mais perfeita e sem outro interesse senão amá-Lo até nEle consumir toda a alma, assim como uma gota que perdendo-se no oceano torna-se uma só coisa com o oceano.


Na paz de Jesus e no amor de Maria,
Jeansley de Sousa

3 comentários:

  1. Com este artigo despeço-me do blog e das redes sociais por algum tempo, para dedicar-me um pouco mais aos estudos e à oração individual e em família, além, claro, do exercício das responsabilidades e obrigações cotidianas. Espero que leiam e reflitam. Abraço em todos.

    ResponderExcluir
  2. Belíssimo texto. Me impactou a parte final, que diz : "... e amar a Deus com todas as minhas forças, de todo meu coração, da maneira mais perfeita e sem outro interesse senão amá-Lo até nEle consumir toda a alma, assim como uma gota que perdendo-se no oceano torna-se uma só coisa com o oceano. " Que o Senhor ilumine você e sua família, infinitamente mais.

    ResponderExcluir
  3. Sem exagero. Parece que estou lendo São Francisco de Sales com vocábulos mais modernos. Nota 10.

    ResponderExcluir

Visualizações de página